Qual é a diferença entre intolerância, alergia e
incompatibilidade alimentar?
Figs, 1 e 2 - Aspecto macro e microscópico do intestino delgado, onde
ocorre a absorção dos nutrientes que mantêm a nossa vida e a nossa saúde
|
Para entender essa diferença, é preciso conhecer
alguns conceitos biológicos importantes.
Primeiro
conceito: o que é e como
funcionam as defesas que temos contra as agressões que nos ameaçam e vêm do
meio externo. Para isso, dispomos do sistema “imunológico” ou simplesmente
“sistema imune”. Assim que um agressor, seja ele qual for (bactérias, substância
química, alguns alimentos) chega à intimidade do nosso corpo, o sistema imune imediatamente
é acionado e envia seus representantes para bloquear a entrada do agressor,
esse corpo estranho que está querendo nos invadir.
Segundo
conceito: para que um alimento
possa ser utilizado no nosso organismo, suas macromoléculas precisam ser totalmente
digeridas, isto é, elas precisam ser quebradas, fragmentadas até se transformarem
em pequenas moléculas chamadas “nutrientes” que agora sim podem ser absorvidas
pelas células do nosso intestino. Da luz intestinal, os nutrientes são
capturados pelos receptores celulares e levados para o interior das nossas células
intestinais (chamadas “enterócitos”) e daí são repassados para o sangue, sendo
levados diretamente para o fígado através de ramos venosos tributários da veia
porta. No fígado, os nutrientes são metabolisados e os produtos finais dos
alimentos são repassados para as demais células que compõem o nosso corpo, de
acordo com as suas necessidades. .
Conceito científico da diferença entre alergia e
intolerância alimentar: tanto uma como a outra representa uma reação adversa do
nosso organismo a determinados tipos de alimentos que ingerimos. A diferença
entre elas é que na intolerância não há formação de anticorpos porque o sistema
imune não participa deste processo. O
que ocorre na intolerância é uma deficiência de alguma enzima que desdobra o
alimento em moléculas pequenas. Com isso, as macromoléculas não são
fragmentadas e acabam passando através das junções que existem entre dois enterócitos
vizinhos, chegando dessa forma à circulação sanguínea. No caso da alergia e da incompatibilidade alimentar,
por outro lado, a presença de macromoléculas dos alimentos no sangue leva à
formação de anticorpos que se unem a elas, formando os complexos
antígeno-anticorpos. Esses complexos ficam circulando no sangue até atingirem
uma quantidade tal que se depositam por entre as células de algum órgão onde a
resistência imunológica esteja diminuída. Essa deposição de imunocomplexos pode
levar ao aparecimentos de sinais e sintomas relacionados ao órgão onde os
imunocomplexos foram depositados, qualquer órgão anatômico pode ser envolvido, sistema
nervoso, pele, pulmão etc.
No caso das alergias alimentares, o anticorpo
produzido é a imunoglobulina E (IgE), que leva à imediata liberação de
histamina, com todo o quadro clínico a ela associado, edema de glote, edema em
diversos locais, vermelhidão na pele e uma série enorme de sinais e sintomas
que obrigam o paciente a procurar imediatamente um pronto atendimento
médico.
Já na incompatibilidade alimentar, como a
imunoglobulina envolvida é a IgG, essa reação adversa pode levar horas ou até
mesmo dias para se manifestar,o que pode
confundir sobremaneira o diagnóstico da condição patológica. É a chamada
hipersensibilidade retardada de tipo III.